sexta-feira, julho 01, 2005

customização



Esses dias eu estava lendo o blog do Flavio Prada, e tinha um post sobre um boné. Nos comments deram sugestões sobre customizar o boné (não vou contar tudo aqui, maiores interessados passem lá e leiam, por favor!) que me fez lembrar de uma calça que eu tinha. Eu estava no colégio, no 1o. ano do 2o. grau, eu acho, tinha uns 15 anos. Era uma calça jeans normal, nem muito clara nem muito escura. Parecida com esta da foto, que é uma montagem, infelizmente não tenho nenhuma foto dela. Uma pena.

Eu fui uma adolescente bem normal, com espinhas e tentando sempre me entrosar com a galera, fazer parte de um grupo, tal. Tinha minhas neuras, meus segredos, minhas milhões de dúvidas como qualquer outra. Mas acho que já tinha alguma noção de identidade, de querer ser diferente, ou pelo menos original, porque resolvi customizar a tal calça. Isso numa época em que ninguém fazia isso, aliás, acho que a palavra nem existia.

Eu sempre tive coceira com etiquetas por dentro das roupas. Então, quando compro uma blusa ou peça qualquer com uma etiqueta mais saliente a primeira coisa que eu faço antes de usar é cortar fora a dita cuja. Na época isso era quase uma heresia. "Como assim, você vai cortar fora uma etiqueta M. Officer??? Tá doida?". Era assim que as pessoas pensavam, pelo menos as pessoas que tinham 15 anos e conviviam comigo no colégio. Mas eu não tava nem aí e cortava. E guardava. Tinha uma gaveta cheia de etiquetas, ficou tipo uma coleção. Tinha umas lindas, de material melhor, de alguma peça que vinha dos EUA ou Europa e alguém trazia de viagem, adorava essas. Não por serem "importadas", mas porque eram bonitas mesmo, de tecidos diferentes, brilhantes, mais coloridas, eu lembro de uma do Mickey que era linda.

Um belo dia resolvi pegar minha coleção de etiquetas e costurar na calça. Nessa montagem aí de cima dá pra ter uma idéia de como ficou, tinha umas 20 ou 30 etiquetas, a maioria na bunda (estrategicamente, claro, que naquela época era bem durinha e eu tinha o maior orgulho dela, então queria mais é que olhassem mesmo!). E todo mundo achava legal e me perguntava onde eu tinha comprado a calça. E sabe o mais engraçado? A cara de decepção das pessoas quando eu falava que tinha feito. É, feito. Eu mesma. Fiz. Costurei. "Ah, tá. Então não foi comprada em nenhuma loja legal, não custou caro, não vale muita coisa". Eles não falavam isso, mas tenho quase certeza que pensavam. Não sei se era despeito ou se realmente tinham pensamentos assim tão medíocres, mas eu não estava nem aí. Adorava minha calça de etiquetinhas e usei por muitos anos. Não sei que fim levou, não lembro.

E essa é a questão interessante. No post do Flavio ele falava sobre usar ou não produtos que tem suas marcas estampadas, e funcionar como "garoto propaganda" da marca, com a qual às vezes a pessoa nem se identifica, ou mesmo não concorda. Hoje em dia é muito difícil eu usar alguma roupa que tenha a marca aparecendo. Exceto talvez em roupas de esporte, que é difícil não ter nenhuma marca na frente, mas normalmente eu até evito. Ou desencano. Mas usar uma calça com uma etiqueta enorme dizendo de que loja é, putz, não é a minha. Compro pelo caimento, pelo material, porque gostei, ora bolas, não pela marca. Gosto de garimpar coisas, de misturar uma paça legal com uma blusinha C&A bem barata, de comprar umas coisas diferentes, daquelas que as pessoas não sabem muito bem de onde veio. Eventualmente até bordo alguma coisa, quando me inspiro. Ultimamente até estou com vontade de comprar uma máquina de costura, ter um surto criativo e reformar um monte de coisas que estão no armário e eu não uso muito.

Mas na época eu não pensava nisso. Não pensava em um monte de coisas, na verdade. Obviamente não tinha muita consciência de coisas que hoje eu tenho (e olha que com 15 anos pensava que era adulta!). Usava minha calça de etiquetinhas numa boa, ostentava várias marcas, do Mickey à Coca Cola (sim, tinha uma etiqueta linda da Coca Cola), da M. Officer à C&A, da Fórum à uma etiqueta qualqur de uma marca que ninguém nunca viu. Era democrático. E a marca da calça mesmo, sumiu. Não lembro, não aparecia, se misturava a todas as outras. Acho que talvez fosse um protesto, lá no meu inconsciente, com um pedacinho de mim já querendo acordar e falar pra todo mundo que eu não concordava com isso, de que ostentar marca é uma bobagem.

Então elas, as marcas, que se misturassem, sem preconceito. Porque assim, todas juntas, perdiam força e ficavam todas iguais. E só serviam pra chamar a atenção pra minha calça diferente.
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8 Comments:

At 3:24 AM, Anonymous Anônimo said...

Gostei do texto. Acho que as pessoas deveria ter mais personalidade e comprar/usar coisas que realmente gostem e não porque os outros vão comentar se é ou não de marca. Eu pessoalmente sempre fui muito desleixado com roupas. Me lembro na época da Unicamp que meu pai veio me visitar e fez questão de jogar fora alguns tênis e roupas pois disse que aquilo não prestava nem pra doar pros outros! Que ele não sabia como eu podia ir pra aula com aqueles trapos! Eu não estava nem aí. Depois de formado fui obrigado como empresário a mudar o gaurda-roupa e cuidar do visual. No mundo dos negócios aparência é importante então temos que dançar conforme a música mas continuo adorando um chinelo de dedo e uma bermuda velha.

 
At 3:28 AM, Blogger Vivian Massignan said...

Amore,
Minha mãe também sempre acha alguma coisa velha no meu armário e joga fora... acho que só mães e pais tem esse direito. (bom, essa semana peguei umas toalhas velhas de quando vc morava sozinho e fiz pano de chão... rs!)

 
At 9:04 AM, Anonymous Anônimo said...

Vi,
Costei muito dos seus novos textos! Você está ficando boa nisso, hein?!
Lembro bem da sua calça de etiquetinhas.... e eu achava o máximo tb!!!
É isso aí, nada de usar blusas estampadas USA ou qqer outra coisa que valorize algo que não precisa ou não merece ser valorizado!!!
Hoje em dia eu também prefiro coisas sem marca e até sem estampa.... Acho que isso é um pouco de influência do Ju, que só usa coisas lisas...
Beijos e saudades,


*** Estamos na final da Libertadores!!!
"Dá-lhe, dá-lhe dá-lhe , ô ô ôôô.....
Dá-lhe Atlético, Dá-lhe Atléticooooooooo"

 
At 7:01 PM, Blogger Vivian Massignan said...

Flavio, querido,
Aquela parte durinha, como vc deve ter percebido, estava num contexto de 15 anos atrás, e escrevi sobre ela pra vcs entenderem melhor como funcionava minha cabecinha de vento. Hoje em dia, apesar de menos durinha, ela ainda dá um bom caldo, mas está disponível exclusivamente para a apreciação do meu sortudo maridão.
Não tenho nenhuma intenção de demonstrá-la aqui no blog, já que este não é o seu objetivo. Mas tenho certeza que se vc procurar vai encontrar blogs temáticos sobre o assunto com as autoras lépidas e faceiras compartilhando tudo alegremente com seus leitores!
Boa sorte!

 
At 7:09 PM, Blogger Vivian Massignan said...

Oi Vã, que bom que vc veio aqui de novo! E sobre blusas escritas USA, estas então, nem pensar MESMO!
Mas tenho que confessar, ainda uso aquele moleton Born to Be Wild, escrito HOllywood (lembra dele, é bem velhinho), pra ficar em casa e ir pra academis...! beijos

 
At 9:42 PM, Anonymous Anônimo said...

Viva, vi lá no luzdeluma.blogspot.com um linque (não consegui copiar) interessantíssimo sobre uma famosa etiqueta de uma empresa americana: www.tombinh.com. Você vai se divertir.

 
At 1:21 AM, Blogger Vivian Massignan said...

Pecus, realmente é muito bom. Eu colocaria essa etiqueta na minha calça!

Tomei a liberdade de copiar o texto da Luma:

Um conhecido comprou uma pequena pasta para transportar o seu portátil de um fabricante americano e quando foi ler as instruções de lavagem reparou que a tradução em francês acrescentava algo mais. O que se lê no fim da etiqueta deste artigo da empresa Tom Binh é "Temos pena, mas o nosso presidente é um idiota. Mas não votamos nele."

 
At 11:01 PM, Anonymous Anônimo said...

Oi Vi

Adorei seu texto alias continue escrevendo pois temboas ideias e escreve muito bem . Voce tem potencial ! Quanto a minha opniao a respeito das marcas eu acho que o legal e voce utilizar as marcas a seu favor a nao deixar que elas de usem. As marcas tem uma finalidade de sinalizar algo , muitas vezes uma situacao economica, um jeito de ser , em estilo enfim elas tem seu valor. Todos nos procuramos atraves de sinais alguma informacao a respeito das pessoas principalmente aquelas que nao conhecemos muito bem . E nesse caso a marca ajuda . Pra conquistar um bom emprego , pra entrar em um grupo especifico . Nao acho isso ruim , e necessario. Se soubermos aproveitar a marca como oportunidade otimo Mas tem horas que nao precisamos delas e ai sim e era daquele chinelinho que nao e havaiana , ou daquela blusinha sem etiquetas onde a unica marca aparente se chama - EU MESMA .
Um beijo e parabens pelo seu texto cunhadinha !

 

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